O "se" Recíproco em Contextos Extra-Canônicos

Uma Tendência de Mudança?

Autores

  • Tuaha António Universidade Lúrio, Faculdade de Ciências de Saúde, Nampula, Moçambique

Palavras-chave:

Pronome Recíproco “se”, Concordância Nominal, Gramaticalização

Resumo

Os estudos já existentes sobre o Português de Moçambique mostram que algumas das construções linguísticas que os falantes produzem apresentam desvios relativamente ao português europeu. Assim, o objetivo deste artigo consiste em verificar se o uso do pronome recíproco "se" em contextos diferentes dos canonicamente fixados pelo português europeu, por estudantes do Ensino Secundário Geral em Moçambique, decorre da sua gramaticalização. Para a operacionalização deste propósito, procede-se à análise dos resultados de um teste de gramaticalidade aplicado a 150 informantes. Essa análise assenta nas seguintes variáveis: (i) tipos de construções recíprocas assinaladas pelos informantes, (ii) contextos de ocorrência do “se” recíproco, (iii) nível de escolaridade dos informantes, e (iv) tipo de sujeito das frases testadas. Os resultados do teste indicam que a ocorrência do “se” recíproco em contextos excluídos pelo português europeu não deriva do processo de gramaticalização. Os potenciais fatores causadores do comportamento assumido por esse recíproco são: a falta de concordância com o seu antecedente, motivada pelo verbo auxiliar que ocorre na estrutura do núcleo verbal; o nível de escolaridade dos informantes; e o sujeito não expresso foneticamente.

Biografia do Autor

Tuaha António, Universidade Lúrio, Faculdade de Ciências de Saúde, Nampula, Moçambique

Mestrado em Ensino de Português como Língua Segunda, Universidade Lúrio

Referências

AMORIM, C.; SOUSA, C. Gramática da língua portuguesa. Porto: Areal Editores, 2009.

ARRUDA, L. Gramática de português para estrangeiros. Porto: Porto Editora, 2004. BERGSTRÖM, M.; REIS, N. Prontuário ortográfico e guia da língua portuguesa. Lisboa:

Editorial Notícias, 1988.

BISOL, L. A neutralização das átonas. Revista Letras, Curitiba. 2003. N. 61, p. 273-283. Disponível em: <http://revistas.ufpr.br/letras/article/viewFile/2891/2373>. Acesso em: 9 ago. 2016.

BORREGANA, A. A. Gramática universal; Língua portuguesa.5. ed.

Lisboa: Texto Editora, 1998.

BRITO, A. M.; DUARTE, I.; MATOS, G. Tipologia e distribuição das expressões nominais. In M. H. M. Mateus et al. (Orgs.). Gramática da língua portuguesa. 6. ed. Lisboa: Caminho, 2003. p. 795-867.

BYBEE, J. (2003). Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In B. Joseph, e R. Janda, (Eds.), The Handbook of Historical Linguistics. Oxford: Blackwell Publishing, 2003. p. 602–623). Disponível em: <http://www.blackwellpublishing.com/content/BPL_Images/Content_store/WWW_Content/9 780631195719/TAY33529%20HISTORICAL%20LINGUISTICS.pdf>. Acesso em: 12 jul. 2016.

CAMPBELL, L.; JANDA, R. Introduction: Conceptions of grammaticalization and their problems. Language Sciences. 2001. N. 23, p. 93-112. Disponível em <http://www.workshopgramaticalizacao.uff.br/images/Campbell%202001%20intro.pdf>. Acesso em: 20 maio. 2016.

CAMPOS, M. H. C.; XAVIER, M. F. Sintaxe e semântica do português. Lisboa: Universidade Aberta, 1991.

CUNHA, C.; CINTRA, L. F. L. Nova gramática do português contemporâneo.15. ed. Lisboa: Edições João Sá da Costa, 1999.

DUARTE, I. Relações gramaticais, esquemas relacionais e ordem de palavras. In M. H. M. Mateus et al. (Orgs.). Gramática da língua portuguesa. 6. ed. Lisboa: Caminho, 2003. p. 275- 321.

EVANS, N. Reciprocal constructions: Towards a structural typology. In E. König e V. Gast (Eds.). Reciprocals and reflexives: theoretical and typological explorations. Berlin: Mouton de Gruyter, 2008. p. 33-103. Disponível em: <http://kenwolcott.net/methods/Reciprocals%20and%20%20Reflexives%20- %20Theoretical%20and%20Typological%20Explorations.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2014.

FREITAG, R. M. K. Uma hipótese de gramaticalização do pronome reflexivo SE na fala de Florianópilis. Working Papers em Linguística. 2003. N. 7, p. 60-72. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php/workingpapers/article/view/6167/5722>. Acesso em: 15 maio. 2016.

FREIXO, M. J. V. Metodologia científica: fundamentos, métodos e técnicas. 2. ed. Lisboa: Instituto Piaget, 2010.

GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2008.

GONÇALVES, P. Aspectos morfossintáticos da gramática do português de Moçambique: a concordância nominal e verbal. Cuadernos de la Alfal, mar. 2015. N. 7, p. 9-16. Disponível em: <http://www.mundoalfal.org/sites/default/files/revista/07_cuaderno_002.pdf>. Acesso em: 20 jan. 2016.

LARSEN-FREEMAN, D.; LONG, M. H. An introduction to second language acquisition research. London: Longman, 1991.

LOPES, Célia. Gramaticalização: definição, princípios e análise de casos. Disponível em:

<https://www.ufmg.br/online/arquivos/anexos/Gramaticalizao_ufrj.pdf>. Acesso em 20/10/2016.

OLIVEIRA, M. Nós se cliticizou-se? In: ENCONTRO DO PHPB, [2014?], Itaparica. Disponível em: <http://dlcv.fflch.usp.br/sites/dlcv.fflch.usp.br/files/maril014.pdf>. Acesso em: 15 maio. 2016.

PERES, J. A.; MÓIA, T. Áreas críticas da língua portuguesa. 2. ed. Lisboa: Caminho, 1995.

RIBEIRO, S. I. R. Estruturas com se anafórico, impessoal e decausativo em português. 2011. 295 f. Tese (Doutorado em Linguística Portuguesa) – Faculdade de Letras, Universidade de Coimbra, Coimbra, 2011. Disponível em: <https://estudogeral.sib.uc.pt/bitstream/10316/17893/5/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20Dou toramento%20S%C3%ADlvia%20Ribeiro.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2014.

Downloads

Publicado

22-08-2017

Como Citar

António, T. (2017). O "se" Recíproco em Contextos Extra-Canônicos: Uma Tendência de Mudança?. Revista Letra Magna, 13(21). Recuperado de https://ojs.ifsp.edu.br/index.php/magna/article/view/2281