O "se" Recíproco em Contextos Extra-Canônicos
Uma Tendência de Mudança?
Palavras-chave:
Pronome Recíproco “se”, Concordância Nominal, GramaticalizaçãoResumo
Os estudos já existentes sobre o Português de Moçambique mostram que algumas das construções linguísticas que os falantes produzem apresentam desvios relativamente ao português europeu. Assim, o objetivo deste artigo consiste em verificar se o uso do pronome recíproco "se" em contextos diferentes dos canonicamente fixados pelo português europeu, por estudantes do Ensino Secundário Geral em Moçambique, decorre da sua gramaticalização. Para a operacionalização deste propósito, procede-se à análise dos resultados de um teste de gramaticalidade aplicado a 150 informantes. Essa análise assenta nas seguintes variáveis: (i) tipos de construções recíprocas assinaladas pelos informantes, (ii) contextos de ocorrência do “se” recíproco, (iii) nível de escolaridade dos informantes, e (iv) tipo de sujeito das frases testadas. Os resultados do teste indicam que a ocorrência do “se” recíproco em contextos excluídos pelo português europeu não deriva do processo de gramaticalização. Os potenciais fatores causadores do comportamento assumido por esse recíproco são: a falta de concordância com o seu antecedente, motivada pelo verbo auxiliar que ocorre na estrutura do núcleo verbal; o nível de escolaridade dos informantes; e o sujeito não expresso foneticamente.
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