Quando Dizer é Morrer
Um Estudo do Discurso Político do Presidente da República e o Aumento das Mortes por Covid-19 no Brasil
DOI:
https://doi.org/10.47734/lm.v18i31.2090Palavras-chave:
COVID-19, Mortes, Discurso Político, Estudos do DiscursoResumo
Busca-se demonstrar a relação direta entre o discurso do Presidente da República, Jair Bolsonaro, durante a crise da 1ª onda da pandemia de COVID-19 em 2020 no Brasil e o aumento no número de casos e mortes no mesmo período. Observou-se que as declarações do governante em conjunto com suas atitudes/ações, sustentando um discurso de negação com relação à crise e ao correto enfrentamento do vírus SARS-CoV-2, incentivou parte da população à exposição ao vírus e, consequentemente, à infecção e ao desdobramento de um quadro grave da doença, que levou muitos fatalmente à morte. Teoricamente, o trabalho vincula-se aos Estudos do Discurso (van Dijk, 2001, 2017, 2020; Charaudeau, 2006, 2009; Authier-Revuz, 1998; Bolinger, 1989), às Teorias dos atos de fala, (Austin, 1990; Searle, 1981; Ducrot, 1987, 1989;) e à Teoria do agir comunicativo (Habermas, 2012). Metodologicamente expõem-se e analisam-se os discursos da autoridade governamental, cruzando-os com os dados e informações oficiais e científicas de mortes no mesmo período, divulgados pelo Ministério da Saúde (Brasil 2021) e demonstrado por Candido et al. (2020). A problemática, objeto da pesquisa, está demarcada pela seguinte questão a que nos propomos responder ao longo de todo o trabalho: é possível a linguagem de um sujeito no campo político, mediante seus atos de fala – isto é, seus discursos –, ser responsável pela influência de ações danosas a uma população inteira na esfera pública? Os resultados apontam para a verificação inicial de que sim. E neste caso específico, o aumento no número de mortes por Covid-19 está diretamente relacionado com a fala da autoridade governamental no período verificado
Referências
Amossy, R. (2005). Introdução: Da noção de retórica de ethos à análise do discurso. Em R. Amossy (Org.). Imagens de si no discurso: A construção do ethos, (pp. 9-28, D. F. Cruz et al, Trad.). Editores Contexto.
Arendt, H. (2007). A condição humana, (10ª ed., R. Raposo, Trad.). Forense Universitária.
Arendt, H. (2008). Homens em tempos sombrios, (D. Bottmann, Trad.). Cia das Letras.
Anscombre, J-C, & Ducrot, O. (1995). L’argumentation dans la langue, (3ème éd.). Pierre Mardaga.
Austin, J. L. (1990) Quando dizer é fazer, (D. M. Souza Filho, Trad.). Artes Médicas.
Authier-Revuz, J. (1998). Palavras incertas: As não-coincidências do dizer. Editora Unicamp.
Barbosa, J. (2005). Foco e tópico: Algumas questões terminológicas. Em G. M. Rio-Torto, O. M. Figueiredo & F. Silva, F. (Coords.). Estudos em Homenagem ao Professor Doutor Mário Vilela, (vol. I, pp. 301-438). Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
Barrucho, L. (2020, 25 de março). Coronavírus: O que diz a Ciência sobre 6 pontos do discurso de Bolsonaro. BBC News Brasil em Londres.
Barthes, R. (2001). A Antiga Retórica. Em R. Barthes (Ed.). A aventura semiológica, (pp. 3-102, M. Laranjeira, Trad.). Martins Fontes.
BBC Brasil. (2020, 07 de julho). Relembre frases de Bolsonaro sobre a covid-19. https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53327880
Bolinger, D. (1989). Language, the loaded weapon: The use and abuse of language today. Longman.
Brasil, Coronavírus Brasil. (2019). Painel Coronavírus - Painel de casos de doença pelo coronavírus (Covid-19) no Brasil pelo Ministério da Saúde. https://covid.saude.gov.br/
Brasil. Presidência da República. (2020). Pronunciamento Oficial do Presidente da República de Jair Bolsonaro, transmitido em Rede Nacional em 24 de março. https://www.youtube.com/watch?v=Vl_DYb-XaAE
Candido, D. S. et al. (2020). Evolution and epidemic spread of SARS-CoV-2 in Brazil. Science, 369(4), 1255-1260. 10.1126/science.abd2161
Charaudeau, P. (2006). O discurso político. Em W. Emediato, I. L. Machado & W. Menezes (Orgs.). Análise do discurso: Gêneros, comunicação e sociedade, (pp. 251-268). UFMG.
Charaudeau, P. (2009). Discurso das mídias, (1ª. ed., Â. S. M. Corrêa, Trad.). Contexto.
Creissels, D. (2004). Topicalisation et focalisation. In D. Creissels (Ed.). Cours de syntaxe générale, (pp. 1-16). Université Lyon 2.
Ducrot, O. (1987). O dizer e o dito, (E. Guimarães, Rev. Téc. Trad.). Pontes Editores.
Ducrot, O. (1989). Argumentação e ‘Topoi’ argumentativos. Em E. Guimarães (Org.) História e sentido na linguagem, (pp. 13-38). Pontes Editores.
Ducrot, O., & Carel, M. (2008). Descrição argumentativa e descrição polifônica: O caso da negação. Letras de hoje, 43(1), 7-18.
Firbas, J. (1992). Functional sentence perspective in written and spoken communication. Cambridge University Press.
Goffman, E. (2011). Ritual de interação: Ensaios sobre o comportamento face a face, (F. R. R. Silva, Trad.). Editora Vozes.
Gonçalves, C. A. (1998). Foco e topicalização: Delimitação e confronto de estruturas. Revista de Estudos Linguístico, 7(1), 31-50.
Habermas, J. (2003). Mudança estrutural da esfera pública: Investigações quanto a uma categoria da sociedade burguesa, (F. R. Kothe, Trad.). Tempo Brasileiro.
Habermas, J. (2012). Teoria do agir comunicativo: Racionalidade da ação e racionalização social, (v. 1, P. A. Soethe, Trad., F. B. Siebeneichler, Rev. Téc.). WMF Marfins Fontes.
Imperial College London. (2021, março). Covid-19 Scenario Analysis Tool. MRC Centre for Global Infectious Disease Analysis, Imperial College London. https://mrc-ide.github.io/covid19-short-term-forecasts/index.html
Leandro, G. C. W. et al. (2020). Intervenções não farmacológicas como medidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19 em municípios de fronteira. Revista de Saúde Pública do Paraná, 3(1), 66-275. https://doi.org/10.32811/25954482-2020v3sup1p266
Madeiro, C. (2021, março). Covid: Cidades em que Bolsonaro gerou aglomerações veem piora e até colapso. Portal UOL. Notícias.
Orlandi, E. P. (1987). A linguagem e seu funcionamento: As formas do discurso, (2ª ed. rev. aum.). Pontes Editores.
Orlandi, E. P. (2007). As formas do silêncio: No movimento dos sentidos, (6ª ed.) Editora Unicamp.
Pêcheux, M. (1999). Papel da Memória. Em P. Achard et al. (Org.). Papel da Memória, (pp. 49-57, J. H. Nunes, Trad.). Pontes Editores.
Pêcheux, M. (2002). O discurso: Estrutura ou acontecimento, (3ª ed., E. P. Orlandi, Trad.). Pontes Editores.
Pêcheux, M. (2014). Semântica e discurso: Uma crítica à afirmação do óbvio. Editora Unicamp.
Pontes, E. (1987). O Tópico no Português do Brasil. Pontes Editores.
Rosa, M. M. (1992). Marcadores de atenuação. Editora Contexto.
Searle, J. R. (1981). Os actos de fala. Livraria Almedina.
Tortamano, C. (2019, 29 de novembro). Terra Arrasada: Quando desistir é a melhor opção. Em Aventuras na História, Curiosidades: Guerras. Portal UOL.
van Dijk, T. A. (2001). Critical Discourse Analysis. Em D. Schiffrin, D. Tannen & H. Hamilton (Eds.). The handbook of discourse analysis, (pp. 352-371). Blackwell.
van Dijk, T. A. (2020). Discurso e poder, (2ª ed., J. Hoffnagel et al., Trad.). Editora Contexto.
van Dijk, T. A. (2017). Discurso e contexto: Uma abordagem sociocognitiva, (R. Ilari, Trad.). Editora Contexto.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2022 Revista Letra Magna
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International License.
Sob a égide da Lei º 9.610/1998 que altera, atualiza e consolida a legislação sobre direitos autorais no Brasil, a Revista Letra Magna (RLM) ressalta a natureza de acesso livre da revista e exige que o(s) autor(es) que submetem manuscritos científicos a este periódico observe(m) princípios éticos e respeite(m) o direito de propriedade intelectual sobre a obra em tela.
Portanto, o(s) autor(es) declara(m)-se titular(es) da propriedade dos direitos autorais do manuscrito submetido e, por conseguinte, não infringe(m) direitos autorais, de imagem e outros direitos de propriedade de terceiros. Logo, assume(m) integral responsabilidade moral ou patrimonial, pelo seu conteúdo, perante terceiros.
Desse modo, o(s) autor(es) autoriza(m), cede(m) e transfere(m) à Revista Letra Magna (RLM) o direito de edição, de publicação, de tradução para outro idioma e de reprodução por qualquer processo ou técnica do manuscrito submetido sem direito exigência de qualquer tipo de remuneração.